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Cronograma definido ajudou Taurus na pandemia

JC - Quais os caminhos para a retomada econômica do Brasil e do RS neste ano?

Salésio Nuhs - A Taurus tem um fenômeno diferente. Nós passamos por uma reestruturação muito grande a partir de 2018. A companha estava em estado crítico em 2017, assumimos em 2018 e a gente traçou um plano extremamente severo e rígido para a companhia, e está batendo recorde atrás de recorde todos os meses. É uma situação diferente do resto do Brasil e de outras empresas do Rio Grande do Sul durante a pandemia, e é um motivo de orgulho muito grande, porque o nosso diagnóstico foi bem feito. O que precisa pra retomada é um diagnóstico muito firme de cada empresa, do cenário que ela atua, seja qual for o ramo, e criar um plano firme e que você acredite – eu sempre digo, tem que acreditar no diagnóstico e no plano de ações que está remediando. A gente vive hoje em novos tempos, acho que isso é um dificultador que está em nosso cenário hoje. Por conta da pandemia nós ficamos muito digitais, as mídias sociais hoje, o relacionamento digital hoje é muito importante para os negócios. A gente está passando por um período complicado, um período de restrições, passando por um primeiro ano da pandemia onde o fôlego das empresas foi diminuindo. As perspectivas era que até o fim de 2020 isso passava e entraríamos em 2021 com uma economia retomada, o que não aconteceu. E em um cenário diferente, as coisas mudaram muito, principalmente na maneira de se comunicar com os consumidores, e os consumidores mudaram a maneira de se comunicar com as indústrias. Portanto, é com um cronograma que você acredite, e considerando esse novo momento do Brasil digitalizado, uma outra realidade que nós vivemos.
 
JC - O que a indústria precisa para crescer neste ano?
 
Nuhs - O Rio Grande do Sul teve queda de 7% no PIB, o Brasil com 4,1%, então não é uma situação que se apresenta de forma favorável. Acho que a economia vai ter que ser alavancada, seja pelos governantes, seja pelos empresários, cada um na sua área de responsabilidade. Seja financiamento de órgãos públicos ou de bancos privados, vai precisar colocar dinheiro na economia, isso é básico.
 
JC - Quais os desafios enfrentados neste período de pandemia?
 
Nuhs - A Taurus também depende do varejo, ao menos aqui no Brasil, pra vender. Temos 3 mil lojas que são atendidas. E, logo no início de março do ano passado, nós criamos um comitê de crise de Covid-19. A nossa geração nunca viveu uma pandemia, tivemos que aprender. Em março eu estava inquieto porque achava que teríamos que viver isso até junho ou julho, uns três meses pela frente de usar álcool em gel e máscara, lojas fechadas etc. O nosso segmento era conservador, não se vendia nada pela internet, até porque a legislação não permite fazer propaganda em veículos de comunicação. Lá atrás nosso comitê da Covid-19 tratava de duas coisas, primeiro a prevenção - tratar saúde das pessoas pra manter as pessoas vivas e bem - e também o lado econômico, como nossos fornecedores e lojistas estão olhando a pandemia. Mudamos nosso material impresso para digital, e uma interação maior com o consumidor. A gente descobriu rapidamente que tinha outra maneira de comunicar, não era só com catálogo de produtos, tinha que ser digital. Tínhamos que entrar na casa das pessoas, e com uma linguagem que pudessem entender. No meio do processo de fazer a reestruturação da empresa, veio a pandemia. Eu tinha um cronograma de ações que eu acreditava firmemente, e a gente imediatamente virou o botão pro digital. E, internamente, a gente imediatamente aderiu às reuniões pelo aplicativo Teams. No início é um pouco difícil, mas tem que acreditar no que pretende fazer. Temos uma fábrica nos Estados Unidos, a gente conversa com a fábrica lá. Íamos regularmente nos Estados Unidos, trocávamos experiência, discutindo novos produtos, gestão. Faz mais de um ano que a gente não viaja, e as coisas não mudaram. Essa adaptação ao novo momento é um novo componente que a retomada da economia tem que considerar. Se você não se preparou para isso, a dificuldade vai ser um pouco pior considerando os números que temos aí, previsão de PIB e principalmente a falta de caixa para a maioria das empresas.
 
JC - Quanto a empresa investiu ano passado e pretende investir neste ano?
 
Nuhs - De 2018 a 2019 a gente investiu aproximadamente R$ 140 milhões em reestruturação forte e desenvolvimento de novos produtos e novas tecnologias. Em 2020, investimos R$ 74,5 milhões já em novos processos e tecnologias, e alguns novos equipamentos. Agora em 2021, vamos investir R$ 153,8 milhões, já foi aprovado no final de abril, é um dado público. Vai ser um investimento forte em equipamentos de última geração. É uma decisão estratégica da Taurus de que tudo que se investir em equipamento tem que ser de ponta, para que possamos melhorar ainda mais a produtividade. No nosso segmento somos uma referência, então não posso me dar ao luxo de ter o mais ou menos, tenho que ter o que é de melhor.
 
JC - Como está a operação da Taurus no Estados Unidos atualmente?
 
Nuhs - A Taurus foi muito corajosa 40 anos atrás quando hasteou a bandeira do Rio Grande do Sul em sua unidade na Flórida e começou a produzir armas lá, no maior mercado e maior competitividade do mundo. Isso é uma coragem que fez parte da história da Taurus. Em 2019, recebemos uma proposta do governo da Georgia para levar a fábrica ao sul do Estado, área de agricultura familiar pequena, e o governo queria industrializar um pouco essa região e nos ofertou, entre a construção de uma nova fábrica e incentivos fiscais, US$ 42 milhões. Em um ano construímos a fábrica, inauguramos no fim de 2019 e começamos a produzir em janeiro de 2020. Queríamos dobrar a produção, e o volume de produção no primeiro trimestre desse ano aumentou 288%. Estamos firmes nessa meta de dobrar a produção.
 
JC - O resultado das eleições dos Estados Unidos em 2020 afetaram de alguma forma o planejamento da Taurus lá?
 
Nuhs - Isso é outra característica da Taurus, e foi o que nos fez passar bem pela pandemia, que é o planejamento. A mesma coisa a gente faz com as questões políticas. No mundo inteiro somos controlados, e a gente exporta pra mais de cem países. Nós vivemos em um país onde tem muita insegurança jurídica para muitas empresas, então imagina para a nossa que é controlada. A gente tem uma inteligência forte em cada mercado que a gente atua, especialmente aqui no Brasil e nos Estados Unidos. Quando o Joe Biden se candidatou, a gente fez questão de entender qual era o plano de governo dele e estudamos a fundo, principalmente no que diz respeito as restrições de acesso a armas. E aí descobrimos no plano dele que ele não tinha nenhum projeto que atingisse nosso portfólio de produtos, pois as restrições seriam para outras armas que a Taurus não fabrica. Isso nos deu certa tranquilidade, mas não deixamos de monitorar o discurso dele em toda a campanha e agora as ações dele. A gente entendeu que isso seria uma própria oportunidade para a Taurus, porque se as restrições que ele está tentando impor – o que vai ser difícil porque ele não tem apoio suficiente no congresso e o assunto de armas nos Estados Unidos é muito difícil de conseguir convencer o Congresso a mudar – não atingem nosso portfólio, e isso nos dá uma oportunidade. Se você quer comprar uma arma X e não consegue porque tem restrições, vai buscar uma Y que te atenda.
 
JC - Em dezembro a Taurus lançou a pedra fundamental do projeto de expansão do complexo de São Leopoldo. Como está o passo da obra?
 
Nuhs - O condomínio de fornecedores será entregue em setembro, e a partir de setembro a gente começa a transferência dos seis principais fornecedores da Taurus para dentro do nosso parque industrial. Evidentemente que vou ter pleno funcionamento a partir de janeiro de 2022, mas o cronograma da obra está adiantado. Em setembro entregamos com toda a certeza.
 
JC – Qual será a nova capacidade de produção depois da expansão?
 
Nuhs - A expansão da capacidade não vai ser imediata. Devemos passar de 6 mil armas para 9 mil armas por dia em médio prazo de dois anos. E, nos Estados Unidos, estamos produzindo hoje 3 mil armas por dia. Nossa produção em abril desse ano foi pouco mais de 9 mil por dia. E a ideia é fazer aqui no Brasil 9 mil armas por dia, e esse condomínio de fornecedores vai possibilitar fabricar peças para nossas plantas não só nos Estados Unidos como também na Índia. A situação da Covid-19 na Índia é lamentável, muito triste, mas certamente o povo indiano vai sair dessa, e assim que conseguirmos concluir nossa fábrica lá tem tudo para se tornar um polo de abastecimento do grupo no mundo inteiro.



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